Escola Família Agrícola
Lugar de paixão e cidadania
Contemplar a terra
E a natureza
Se apaixonar pela vida e a
beleza
Cultivar a terra e guardar a criação
Essa é a nossa missão
Escola família agrícola
Lugar de paixão e cidadania
A luta da justiça e da igualdade
Preservar a vida e a biodiversidade
Cultivar a terra e guardar a criação
Essa é a nossa missão
EFA Jaguaribana
Zé Maria do Tomé
Com coragem amor e fé
Na luta por terra e água
Viver a Agroecologia e conviver com o semiárido
Essa é a nossa missão
Quando se fala em
educação no meio rural, estamos habituados a ouvir histórias de jovens que
encerram seus sonhos logo ao concluir o ensino médio. São vários os fatores para
a evasão escolar, desde o fechamento das escolas rurais até o sonho do primeiro
emprego, atrelado à independência financeira e ajudar os pais. Entretanto,
sabemos que a educação no campo e para o campo tem contado com um importante
instrumento: a EFA ou Escola Família Agrícola.
Em 2016, quando soubemos
que nasceria uma EFA em Tabuleiro do Norte, logo vieram expectativas e sonhos
de como colaborar com essa modalidade de educação, que se baseia na pedagogia
da alternância, focando na Agroecologia, é mergulhar num universo de
possibilidades. Vamos conhecer um pouco da trajetória da EFA Jaguaribana Zé
Maria do Tomé, localizada na comunidade Currais, em Tabuleiro do Norte, Ceará.
Educação no campo e para o campo
Thiago Valentim
- agente da CPT -Comissão Pastoral da Terra e presidente da Associação Família Agrícola
Jaguaribana.
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Segundo Thiago
Valentim, “a ideia de criar a EFA em Tabuleiro surgiu a partir da experiência
com a EFA Dom Fragoso, em Independência, que já existe há 16 anos. “Em março de
2016, criamos um grupo formado por lideranças comunitárias, professoras/es,
presidentes de associação, sindicatos, representantes da paróquia local e
trabalhadores rurais, que chamamos de “núcleo de origem” e iniciamos o processo. A nossa proposta
pedagógica é bem parecida com as outras EFA’s, que são escolas comunitárias, de
nível médio, integradas ao técnico em agropecuária. No nosso caso, uma escola
fundamentada na Agroecologia. A metodologia é baseada na pedagogia da
alternância, onde os/as educandos/as não saem das suas realidades: passam 12
dias na escola e 18 dias em casa. Na escola, participam do processo de formação
que inclui as disciplinas da Base Comum do Ensino Médio, as disciplinas do
curso Técnico em Agropecuária, e uma série de atividades transversais como
oficinas, debates, mini cursos, rodas de conversa... E levam atividades para
fazer em casa, junto às suas famílias e a comunidade.
“É uma escola que pretende formar esses jovens para que continuem
no campo, a partir de um projeto que chamamos de Agroecologia. Serão profissionais com uma formação diferenciada,
um técnico que se integra aos saberes dos agricultores familiares na região” Thiago
Valentim
A primeira turma é
formada por 12 jovens da zona rural, embora alguns sejam da zona urbana. Tem
jovens de Potiretama, Iracema, Russas e Tabuleiro do Norte. O importante é que
demonstrem interesse pela realidade camponesa, que se adequem a metodologia da
escola, que se adaptem à convivência com outros jovens no mesmo espaço. Além dos
jovens, os pais ou responsáveis precisam estar comprometidos, afinal o próprio
nome da escola já diz isso.“Nossa estrutura ainda não comporta uma turma maior.
Temos como desafio para o próximo ano, uma nova turma, pela visibilidade que a
escola vem alcançando através da divulgação que os educandos/as atuais vem
fazendo”, disse Thiago.
“A EFA não é uma escola fechada. Nossa articulação na região
se soma à pluralidade das lutas e aos muitos desejos para que a agroecologia
seja um projeto consolidado. E a gente vai descobrindo a cada dia as formas de
contribuir para um semiárido mais solidário, vivo e feliz.” Thiago Valentim
Manter uma escola não é
fácil. E a EFA Jaguaribana sobrevive de doações financeiras, de alimentação, de
materiais escolares e didáticos. A comunidade dos Currais tem participado
bastante dos mutirões, assim como município de Limoeiro e organizações da
sociedade civil. E não podemos deixar de citar as/os professoras/es e
colaboradoras/es que de forma voluntária doam seus tempos, conhecimentos e
muito amor.
Uma rede de punhos fortes
A cada 2 meses, a Rede
das EFA´s reúne sua equipe para planejar estratégias que envolvam a juventude e
a comunidade para além das ações cotidianas da escola, partindo da formação da
juventude em Agroecologia, para enfrentar o esvaziamento do campo provocado
pelo agronegócio, pela mineração, o fechamento das escolas rurais, entre outros
temas, e também para que as famílias desses jovens percebam outras formas de
produzir , gerar renda e ter qualidade de vida.
Bora desenhar o que a gente conversou?
Alisson Chaves fala sobre a trajetória da EFA Jaguaribana |
No final de
semana passado, a juventude educanda da EFA recebeu o comunicador popular da Obas,
Ricardo Wagner, para trocar ideias sobre facilitação gráfica, ou conversa
desenhada. A atividade é uma das muitas que virão, focando na comunicação
popular como ferramenta de expressão e divulgação de temas como agroecologia,
convivência com o semiárido, gênero, direitos humanos entre outros.
A
metodologia é bem simples: aborda-se a comunicação no contexto histórico, suas
modalidades e instrumentos e elege-se um tema para a Conversa Desenhada. A trajetória da EFA foi escolhida para que se
tenha um registro histórico. Daí, a partir de vídeos, dinâmicas e de uma
cartilha que contempla algumas técnicas de desenho, a turma pode exercitar a
metodologia.
Com o apoio
do comunicador popular da EFA - Alisson Chaves, que fez o resgate histórico do
surgimento da EFA, duas equipes mistas foram formadas e a criatividade correu
solta, traçando uma linha do tempo com muito humor e atenção aos detalhes.
E as trajetórias individuais? Vamos conhecer?
Com voz e semblante
tranquilo, Sahmara é uma das educandas da primeira turma da EFA. Nascida em
Tabuleiro do Norte, filha de agricultores e com um irmão adolescente, a jovem
nos conta que soube da escola através de amigos. “Eu tava com o meu companheiro
e aí um amigo começou a falar sobre a EFA. Nossa... Foi uma visão totalmente diferente
das escolas convencionais. Aí eu me interessei e fui buscar mais informações no
site da EFA. Depois da inscrição, foi só ansiedade pra começar”.
“Sim! Nós mulheres podemos decidir o que queremos ser”. Sahmara – 25 anos, educanda da EFA Jaguaribana |
Sahmara falou que nunca
tinha participado de grupo de jovens, mas já conversava com amigas sobre
feminismo, direitos, juventude, relacionamentos... “Eu já tinha uma noção. Mas Agroecologia eu
nunca tinha ouvido falar. Pra mim é tudo novo”. Sua trajetória parece com a de
muitas jovens camponesas: “Eu venho de escola pública e tinha feito até o
primeiro ano do ensino médio, em 2012. Eu parei pra começar a trabalhar e
ajudar meus pais. Eu já viajei muito, morei noutras cidades... Mas me arrependi
muito de ter parado de estudar. Agora eu voltei porque meus pais e meu
companheiro me incentivaram, principalmente quando souberam que o ensino tinha
a ver com a agricultura. Minha mãe gostou muito de saber que a escola fica numa
comunidade próxima onde eu moro... A cada sessão, ela fica perguntando o que eu
tô aprendendo...” afirmou a jovem.
Sahmara continua levando sua vida como antes, mas agora com outro olhar
para o futuro. “Eu tinha o desejo de fazer uma faculdade relacionada à
estética. Agora que eu conheci a EFA, quero algo mais voltado pra natureza, ser
uma bióloga... E quando eu falo para as minhas amigas sobre a EFA, elas
perguntam: Ah... Vocês ficam lá capinando? As mulheres tem privacidade? Elas
acham que a gente fica só trabalhando em roçado. Aí eu vou explicar que a gente
estuda as matérias convencionais, estuda agroecologia, espanhol e elas ficam surpresas. Eu digo que a gente
põe a mão na massa, sim, mas com orgulho. A gente tá expandindo a nossa escola,
deixando ela com a nossa cara. Eu
convido minhas amigas e suas famílias pra nos visitar. Todo mundo é bem vindo
aqui! Além de uma escola, a EFA é nossa casa!” disse sorridente.
Arte e educação a serviço da Agroecologia
Paulo Vitor, cuida da horta da escola |
No auge das descobertas
e questionamentos, Paulo Vitor, de 16 anos - se revela atento às coisas do
mundo. Natural de Tabuleiro do Norte, o jovem nos falou sobre os motivos de
procurar a EFA para ampliar seus conhecimentos. “Eu soube da EFA com um amigo,
o Alisson. Eu me interessei porque não é uma escola convencional. A gente
aprende sobre a natureza tendo o contato com ela, e ainda cria uma nova
família, pois a gente chega e não conhece ninguém. Eu não sou filho de
agricultores, mas tenho uma identidade muito forte com a terra. Minha origem é
muito urbana, mas eu sempre gostei de estar nos rios, de acampar nesse local
que hoje é a EFA... mas eu não tinha contato com ninguém que falasse sobre
Agroecologia”.
Fã do clássico Laranja Mecânica, Paulo diz ter uma boa
relação com as artes, em especial com a música e a literatura. Autodidata,
aprendeu a tocar violão sozinho e confessa que sua timidez atrapalha um pouco
nesse aspecto. “Aqui tô me soltando mais, porque tudo é debatido de forma
respeitosa. E eu acredito que a música pode contribuir de alguma forma com o
que a gente aprende na escola, pois falamos de agroecologia,direitos humanos,
LGBTT’s, os movimentos sociais... Minha perspectiva é fazer uma faculdade de
agronomia, trabalhar na área... Aqui na EFA a gente desperta para ser um humano
melhor e atuar em áreas que a gente nem imaginava”.
Só faltou o milho e a
batata para assar na fogueira, montada debaixo de um pé de oiticica, ao lado da
escola. Logo após o jantar, a turma reuniu-se, embalada pelo violão do Paulo Vitor
e surgiram as prosas ouvidas na infância, onde os pais e avós contavam sobre
causos engraçados ou assustadores. Passeamos entre caiporas, “visages” e
assombrações, tudo com muito humor e alguns sustos provocados pelo vento na
mata. Mas nada impediu que tivéssemos um excelente sono na varanda, onde soprou
uma brisa fina.
A manhã seguinte foi
para concluir as ilustrações e fazer o resgate memorial. As equipes fizeram
suas considerações e avaliação da metodologia e sugeriram como encaminhamento,
que o próximo módulo de comunicação aborde um vídeo em stopmotion ou Time lapse.
Pelo visto, nossos laços se fortalecem e a educação contextualizada se
consolida como um dos caminhos para a Agroecologia.
Sigamos...
Ricardo Wagner –
Comunicador popular pela Obas
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