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quarta-feira, 20 de junho de 2018

Obas realiza Oficina de Conversa Desenhada na EFA Jaguaribana





Hino da EFA Jaguaribana
Escola Família Agrícola
Lugar de paixão e cidadania
Contemplar a terra
E a natureza
Se apaixonar pela vida  e a beleza
Cultivar a terra e guardar a criação
Essa é a nossa missão
Escola família agrícola
Lugar de paixão e cidadania
A luta da justiça e da igualdade
Preservar a vida e a biodiversidade
Cultivar a terra e guardar a criação


Essa é a nossa missão 
EFA Jaguaribana
Zé Maria do Tomé
Com coragem amor e fé
Na luta por terra e água
Viver a Agroecologia e conviver com o semiárido
Essa é a nossa missão








Quando se fala em educação no meio rural, estamos habituados a ouvir histórias de jovens que encerram seus sonhos logo ao concluir o ensino médio. São vários os fatores para a evasão escolar, desde o fechamento das escolas rurais até o sonho do primeiro emprego, atrelado à independência financeira e ajudar os pais. Entretanto, sabemos que a educação no campo e para o campo tem contado com um importante instrumento: a EFA ou Escola Família Agrícola.
Em 2016, quando soubemos que nasceria uma EFA em Tabuleiro do Norte, logo vieram expectativas e sonhos de como colaborar com essa modalidade de educação, que se baseia na pedagogia da alternância, focando na Agroecologia, é mergulhar num universo de possibilidades. Vamos conhecer um pouco da trajetória da EFA Jaguaribana Zé Maria do Tomé, localizada na comunidade Currais, em Tabuleiro do Norte, Ceará.

Educação no campo e para o campo


 Thiago Valentim - agente da CPT -Comissão Pastoral da Terra e presidente da Associação Família Agrícola Jaguaribana.  
Segundo Thiago Valentim, “a ideia de criar a EFA em Tabuleiro surgiu a partir da experiência com a EFA Dom Fragoso, em Independência, que já existe há 16 anos. “Em março de 2016, criamos um grupo formado por lideranças comunitárias, professoras/es, presidentes de associação, sindicatos, representantes da paróquia local e trabalhadores rurais, que chamamos de “núcleo de origem”  e iniciamos o processo. A nossa proposta pedagógica é bem parecida com as outras EFA’s, que são escolas comunitárias, de nível médio, integradas ao técnico em agropecuária. No nosso caso, uma escola fundamentada na Agroecologia. A metodologia é baseada na pedagogia da alternância, onde os/as educandos/as não saem das suas realidades: passam 12 dias na escola e 18 dias em casa. Na escola, participam do processo de formação que inclui as disciplinas da Base Comum do Ensino Médio, as disciplinas do curso Técnico em Agropecuária, e uma série de atividades transversais como oficinas, debates, mini cursos, rodas de conversa... E levam atividades para fazer em casa, junto às suas famílias e a comunidade.


“É uma escola que pretende formar esses jovens para que continuem no campo, a partir de um projeto que chamamos de Agroecologia. Serão  profissionais com uma formação diferenciada, um técnico que se integra aos saberes dos agricultores familiares na região” Thiago Valentim




A primeira turma é formada por 12 jovens da zona rural, embora alguns sejam da zona urbana. Tem jovens de Potiretama, Iracema, Russas e Tabuleiro do Norte. O importante é que demonstrem interesse pela realidade camponesa, que se adequem a metodologia da escola, que se adaptem à convivência com outros jovens no mesmo espaço. Além dos jovens, os pais ou responsáveis precisam estar comprometidos, afinal o próprio nome da escola já diz isso.“Nossa estrutura ainda não comporta uma turma maior. Temos como desafio para o próximo ano, uma nova turma, pela visibilidade que a escola vem alcançando através da divulgação que os educandos/as atuais vem fazendo”, disse Thiago.


“A EFA não é uma escola fechada. Nossa articulação na região se soma à pluralidade das lutas e aos muitos desejos para que a agroecologia seja um projeto consolidado. E a gente vai descobrindo a cada dia as formas de contribuir para um semiárido mais solidário, vivo e feliz.” Thiago Valentim





Manter uma escola não é fácil. E a EFA Jaguaribana sobrevive de doações financeiras, de alimentação, de materiais escolares e didáticos. A comunidade dos Currais tem participado bastante dos mutirões, assim como município de Limoeiro e organizações da sociedade civil. E não podemos deixar de citar as/os professoras/es e colaboradoras/es que de forma voluntária doam seus tempos, conhecimentos e muito amor.


Uma rede de punhos fortes

A cada 2 meses, a Rede das EFA´s reúne sua equipe para planejar estratégias que envolvam a juventude e a comunidade para além das ações cotidianas da escola, partindo da formação da juventude em Agroecologia, para enfrentar o esvaziamento do campo provocado pelo agronegócio, pela mineração, o fechamento das escolas rurais, entre outros temas, e também para que as famílias desses jovens percebam outras formas de produzir , gerar renda e ter qualidade de vida.


Bora desenhar o que a gente conversou?
Alisson Chaves fala sobre a trajetória da EFA Jaguaribana
No final de semana passado, a juventude educanda da EFA recebeu o comunicador popular da Obas, Ricardo Wagner, para trocar ideias sobre facilitação gráfica, ou conversa desenhada. A atividade é uma das muitas que virão, focando na comunicação popular como ferramenta de expressão e divulgação de temas como agroecologia, convivência com o semiárido, gênero, direitos humanos entre outros. 




A metodologia é bem simples: aborda-se a comunicação no contexto histórico, suas modalidades e instrumentos e elege-se um tema para a Conversa Desenhada. A trajetória da EFA foi escolhida para que se tenha um registro histórico. Daí, a partir de vídeos, dinâmicas e de uma cartilha que contempla algumas técnicas de desenho, a turma pode exercitar a metodologia.

Com o apoio do comunicador popular da EFA - Alisson Chaves, que fez o resgate histórico do surgimento da EFA, duas equipes mistas foram formadas e a criatividade correu solta, traçando uma linha do tempo com muito humor e atenção aos detalhes. 

E as trajetórias individuais? Vamos conhecer?

Sahmara cuidando do jardim da EFA
Com voz e semblante tranquilo, Sahmara é uma das educandas da primeira turma da EFA. Nascida em Tabuleiro do Norte, filha de agricultores e com um irmão adolescente, a jovem nos conta que soube da escola através de amigos. “Eu tava com o meu companheiro e aí um amigo começou a falar sobre a EFA. Nossa... Foi uma visão totalmente diferente das escolas convencionais. Aí eu me interessei e fui buscar mais informações no site da EFA. Depois da inscrição, foi só ansiedade pra começar”. 

“Sim! Nós mulheres podemos decidir o que queremos ser”.
Sahmara – 25 anos, educanda da EFA Jaguaribana
Sahmara falou que nunca tinha participado de grupo de jovens, mas já conversava com amigas sobre feminismo, direitos, juventude, relacionamentos...  “Eu já tinha uma noção. Mas Agroecologia eu nunca tinha ouvido falar. Pra mim é tudo novo”. Sua trajetória parece com a de muitas jovens camponesas: “Eu venho de escola pública e tinha feito até o primeiro ano do ensino médio, em 2012. Eu parei pra começar a trabalhar e ajudar meus pais. Eu já viajei muito, morei noutras cidades... Mas me arrependi muito de ter parado de estudar. Agora eu voltei porque meus pais e meu companheiro me incentivaram, principalmente quando souberam que o ensino tinha a ver com a agricultura. Minha mãe gostou muito de saber que a escola fica numa comunidade próxima onde eu moro... A cada sessão, ela fica perguntando o que eu tô aprendendo...” afirmou a jovem.

Sahmara continua levando sua vida como antes, mas agora com outro olhar para o futuro. “Eu tinha o desejo de fazer uma faculdade relacionada à estética. Agora que eu conheci a EFA, quero algo mais voltado pra natureza, ser uma bióloga... E quando eu falo para as minhas amigas sobre a EFA, elas perguntam: Ah... Vocês ficam lá capinando? As mulheres tem privacidade? Elas acham que a gente fica só trabalhando em roçado. Aí eu vou explicar que a gente estuda as matérias convencionais, estuda agroecologia, espanhol  e elas ficam surpresas. Eu digo que a gente põe a mão na massa, sim, mas com orgulho. A gente tá expandindo a nossa escola, deixando ela com a  nossa cara. Eu convido minhas amigas e suas famílias pra nos visitar. Todo mundo é bem vindo aqui! Além de uma escola, a EFA é nossa casa!” disse sorridente.


Arte e educação a serviço da Agroecologia


Paulo Vitor, cuida da horta da escola
No auge das descobertas e questionamentos, Paulo Vitor, de 16 anos - se revela atento às coisas do mundo. Natural de Tabuleiro do Norte, o jovem nos falou sobre os motivos de procurar a EFA para ampliar seus conhecimentos. “Eu soube da EFA com um amigo, o Alisson. Eu me interessei porque não é uma escola convencional. A gente aprende sobre a natureza tendo o contato com ela, e ainda cria uma nova família, pois a gente chega e não conhece ninguém. Eu não sou filho de agricultores, mas tenho uma identidade muito forte com a terra. Minha origem é muito urbana, mas eu sempre gostei de estar nos rios, de acampar nesse local que hoje é a EFA... mas eu não tinha contato com ninguém que falasse sobre Agroecologia”.

Fã do clássico Laranja Mecânica, Paulo diz ter uma boa relação com as artes, em especial com a música e a literatura. Autodidata, aprendeu a tocar violão sozinho e confessa que sua timidez atrapalha um pouco nesse aspecto. “Aqui tô me soltando mais, porque tudo é debatido de forma respeitosa. E eu acredito que a música pode contribuir de alguma forma com o que a gente aprende na escola, pois falamos de agroecologia,direitos humanos, LGBTT’s, os movimentos sociais... Minha perspectiva é fazer uma faculdade de agronomia, trabalhar na área... Aqui na EFA a gente desperta para ser um humano melhor e atuar em áreas que a gente nem imaginava”.


Fogueira e histórias de “malassombro”




Só faltou o milho e a batata para assar na fogueira, montada debaixo de um pé de oiticica, ao lado da escola. Logo após o jantar, a turma reuniu-se, embalada pelo violão do Paulo Vitor e surgiram as prosas ouvidas na infância, onde os pais e avós contavam sobre causos engraçados ou assustadores. Passeamos entre caiporas, “visages” e assombrações, tudo com muito humor e alguns sustos provocados pelo vento na mata. Mas nada impediu que tivéssemos um excelente sono na varanda, onde soprou uma brisa fina.


A manhã seguinte foi para concluir as ilustrações e fazer o resgate memorial. As equipes fizeram suas considerações e avaliação da metodologia e sugeriram como encaminhamento, que o próximo módulo de comunicação aborde um vídeo em stopmotion ou Time lapse. Pelo visto, nossos laços se fortalecem e a educação contextualizada se consolida como um dos caminhos para a Agroecologia.

Sigamos...


Ricardo Wagner – Comunicador popular pela Obas








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