"Eu me sinto uma semente com todo esse aprendizado,
desde o começo".
Irenice -
agricultora - Aroeiras/Aracati - CE
Chico Antonio acolhendo participantes do intercâmbio do P1+2 |
Durante os dias 23 a 25 de julho, agricultoras e agricultores do município de Aracati e técnicas/os da Obas puderam vivenciar diferentes aspectos da Agroecologia, no intercâmbio em Viçosa do Ceará e Tianguá, proporcionados pelo P1+2 - Programa Uma Terra e Duas Águas, em que são construídas cisternas de captação de água para produção de alimentos.
Jorge Pinto - coordenação da Obas, fala sobre as organizações populares e agroecologia |
Chico Antonio nos recebeu
no Recanto Beija-flor, seu sítio localizado em Viçosa do Ceará, na Serra da
Ibiapaba. Logo uma grande roda formou-se debaixo da mangueira, que com sua
sombra frondosa nos acolheu no entorno de uma mandala de sementes, folhas,
flores e frutos cuidadosamente montada pela família para encher nossos olhos de
encanto e curiosidade.
A mandala teve um
propósito: Chico a utilizou para nos indagar sobre o que entendemos sobre
agroecologia, que espécies e culturas conhecíamos, quais fazem parte das nossas
realidades locais e o que tínhamos visto que não conhecíamos. Certamente foi um
momento muito rico de apresentações e descobertas, em que gerações diferentes
puderam expressar seus saberes (saiba mais no quadro - O que foi dito).
Mandala |
Almoçar um baião de
fava, com salada de alface, tomate cereja, batata, galinha caipira e suco
de ata, parecia que ia nos deixar sonolentos para percorrer as áreas do sítio,
mas foi como combustível animador.
O clima estava mais
do que propício a visita, mas não à toa. Certamente o empenho da família em
cultivar espécie para reflorestar o local muito contribuiu. Foi a vez do Chico
Antonio contar de como, há dez anos, chegou no Recanto e o encontrou totalmente
diferente. "Era praticamente monocultivo. Onde é minha casa hoje servia de
depósito de agrotóxico. Eu não quis saber de nada daquilo. Foi um trabalho
árduo, de conhecer as espécies, de experimentar manejos, de observar as
mensagens que a própria natureza dava", disse ele.
Chico Antonio mostra as espécies cultivadas em seu sítio |
Entre Jaqueiras e
abacateiros, novamente Chico Antonio nos encantou com seu conhecimento e amor
pela terra. A começar pela substituição das "covas é onde a gente enterra
algo morto. A gente fala é berço germinativo, que é onde vão nascer bons
frutos", disse ele. Na caminhada pelo sítio, pudemos perceber nitidamente
as mudanças nas áreas não roçadas, onde o mato cresce como cobertura de
proteção do solo, mantendo-o úmido. Perguntas não faltaram, numa aula de
campo necessária para a promoção da agroecologia.
Da serra pro sertão, há diferenças,
mas há semelhanças também...
Visita ao sítio do seu João e dona Graça |
...que foram
comprovadas na visita ao sítio do seu João e dona Graça, na comunidade Areia
Branca. A família se completa com o filho, Eduardo, que foi educando da EFA
Ibiapana e que também contribui com seus conhecimentos na área. Seu João falou
com entusiasmo sobre agroecologia e de como vem participando dos debates.
"Eu fui pro IV ENA e lá percebi que não existe diferença no amor dos
agricultores pela terra. Pode ter formas diferentes de plantio, culturas
diferentes, tipos de solos diferentes, mas a responsabilidade e respeito pela terra
é o mesmo", disse o agricultor.
Seu João mostra sua mandala, onde cria peixes e patos. |
Lá pudemos ver as
tecnologias da cisterna calçadão, bioágua, canteiros produtivos e a Casa de
Sementes. Foi nesse espaço que conversamos sobre a preservação das sementes
crioulas que nos são passadas há gerações e de sua importância para o
ecossistema.
Casa de Sementes da comunidade Areia Branca |
Foi uma experiência
mais que sensorial, de troca de saberes e sabores: mas também de unir os
afetos, olhares e perspectivas para um mundo compartilhável. O fato é que
visitar outras realidades nos traz sentimentos diversos, seja de comparação com
o que estamos realizando, seja com o que ainda está por vir.
Vale lembrar que
contamos com o apoio da Espaf, representada por Elviro que, além de gentilmente
nos acompanhar nas duas visitas, nos certifica que somente através da
coletividade, da união e parceria, podemos fortalecer nossas lutas.
Sigamos...
O que foi dito...
"Agroecologia
é um movimento harmônico de saúde, bem estar, afeto, alegria, respeito ao
meio ambiente e às pessoas... É uma junção de saberes que se direcionam a
tudo o que é bom". Chico Antonio
"Nem todas as
pessoas hoje tem a oportunidade de consumir alimentos saudáveis, com base
agroecológica. Por isso é tão importante encontros como esse, que nos faz
pensar sobre como aplicar nossos conhecimentos para que outras pessoas tenham
essa oportunidade" Josimar Galdino
"Aprender mais
sobre o que o campo tem a nos oferecer." Luan - Aroeiras/Aracati
"Buscar e
compartilhar conhecimentos é o que nos move e nos encanta na
agroecologia". Jorge Pinto - coordenação da Obas
"Eu só sei
viver da agricultura. Eu planto mandioca, milho, feijão... A gente sempre
espera ter uma vida melhor, com saúde. Mas aí a gente não pode usar veneno,
né?" José Félix - Aroeiras
"Olhar
para mandala é perceber todo o ciclo de produção. A semente no centro, depois
as folhas, flores, frutos... E depois a semente novamente dentro do fruto. É
a representação da vida." Samia - Técnica da Obas
"Me sinto
privilegiada pela conquista da cisterna, mas não por ela só, mas pelos
conhecimentos que a gente adquire. É possível viver sem agrotóxico, sim! Por
isso é importante esses intercâmbios pra gente entender outras realidades e
pra nos alertar, pra gente saber o que produzir e consumir o que a gente
produz". Nilca, agricultora Aroeiras/Aracati
"A
Agroecologia é libertadora. Nos fala sobre resgate das sementes crioulas, dos
bancos de sementes, das relações humanas, de responsabilidade e confiança. É
preciso reconhecermos nosso compromisso com a terra, com a gente e com as
pessoas" Renata, estudante de Agrononomia na Unilab e estagiária na Obas
"Agroecologia
é vida. O ciclo da mandala nos comprova a continuidade da vida".
Ezequias Frota - técnico da Obas
"Agroecologia
é questão de vida. A ultima extremidade somos nós, que dependemos dela"
Natália Silva - técnica da Obas
"O caju é a
nossa riqueza lá em Aracati. A gente passa o ano esperando. Sou feliz no meu
interior, mesmo não tendo tanta diversidade de plantas. Mas o que a gente tem
é bem cuidado". Edilene - agricultora, Aracati
"Se a gente
não plantar o que consumimos, muito vai mudar nos nossos hábitos. Muito vai
se perder" Silvanio Jr - Jovem agricultor, Aroeiras
"Eu fico
observando as histórias e acho que tem tudo a ver usar a informática a favor
da agroecologia. Eu penso em estudar agronomia um dia" Gabriel, jovem da
comunidade Aroeiras
"Existem
diversas maneiras de ajudar o planeta, de ter uma boa convivência, de não
poluir, de não pensar só em si. Temos que perceber esse dilema para além do
nosso Ceará. É uma questão de mundo". Manuela - Aroeiras
"Agroecologia
é modo de vida, perspectiva do comportamento, da felicidade, da saúde e do
respeito" Chico Antonio
"As sementes
germinam, vem as flores, os frutos... Quem mora no campo tem absorvido muito
produto industrializado, desvalorizando o que nossos pais e avós produziam.
As novas gerações tem pouco interesse e conhecimento do que a agricultura
saudável tem a nos trazer" Rosana - Aroeiras
"Diversidade
sem veneno. É possível levar uma vida organizada, saudável e feliz com a
agroecologia" Adilton Morais - técnico da Obas
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