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quinta-feira, 26 de julho de 2018

Comunidades de Aracati participam de Intercâmbio do P1+2 na Ibiapaba


"Eu me sinto uma semente com todo esse aprendizado, 
desde o começo".  
Irenice - agricultora - Aroeiras/Aracati - CE

Chico Antonio acolhendo participantes do intercâmbio do P1+2


Durante os dias 23 a 25 de julho, agricultoras e agricultores do município de Aracati e técnicas/os da Obas puderam vivenciar diferentes aspectos da Agroecologia, no intercâmbio em Viçosa do Ceará e Tianguá, proporcionados pelo P1+2 - Programa Uma Terra e Duas Águas, em que são construídas cisternas de captação de água para produção de alimentos.


Jorge Pinto - coordenação da Obas, fala sobre as organizações populares e agroecologia

Chico Antonio nos recebeu no Recanto Beija-flor, seu sítio localizado em Viçosa do Ceará, na Serra da Ibiapaba. Logo uma grande roda formou-se debaixo da mangueira, que com sua sombra frondosa nos acolheu no entorno de uma mandala de sementes, folhas, flores e frutos cuidadosamente montada pela família para encher nossos olhos de encanto e curiosidade.




A mandala teve um propósito: Chico a utilizou para nos indagar sobre o que entendemos sobre agroecologia, que espécies e culturas conhecíamos, quais fazem parte das nossas realidades locais e o que tínhamos visto que não conhecíamos. Certamente foi um momento muito rico de apresentações e descobertas, em que gerações diferentes puderam expressar seus saberes (saiba mais no quadro - O que foi dito). 

Mandala
Almoçar um baião de fava, com salada de alface, tomate cereja, batata,  galinha caipira e suco de ata, parecia que ia nos deixar sonolentos para percorrer as áreas do sítio, mas foi como combustível animador.


O clima estava mais do que propício a visita, mas não à toa. Certamente o empenho da família em cultivar espécie para reflorestar o local muito contribuiu. Foi a vez do Chico Antonio contar de como, há dez anos, chegou no Recanto e o encontrou totalmente diferente. "Era praticamente monocultivo. Onde é minha casa hoje servia de depósito de agrotóxico. Eu não quis saber de nada daquilo. Foi um trabalho árduo, de conhecer as espécies, de experimentar manejos, de observar as mensagens que a própria natureza dava", disse ele.

Chico Antonio mostra as espécies cultivadas em seu sítio
Entre Jaqueiras e abacateiros, novamente Chico Antonio nos encantou com seu conhecimento e amor pela terra. A começar pela substituição das "covas é onde a gente enterra algo morto. A gente fala é berço germinativo, que é onde vão nascer bons frutos", disse ele. Na caminhada pelo sítio, pudemos perceber nitidamente as mudanças nas áreas não roçadas, onde o mato cresce como cobertura de proteção do solo, mantendo-o úmido. Perguntas não faltaram,  numa aula de campo necessária para a promoção da agroecologia.

Da serra pro sertão, há diferenças,
mas há semelhanças também...


Visita ao sítio do seu João e dona Graça

...que foram comprovadas na visita ao sítio do seu João e dona Graça, na comunidade Areia Branca. A família se completa com o filho, Eduardo, que foi educando da EFA Ibiapana e que também contribui com seus conhecimentos na área. Seu João falou com entusiasmo sobre agroecologia e de como vem participando dos debates. "Eu fui pro IV ENA e lá percebi que não existe diferença no amor dos agricultores pela terra. Pode ter formas diferentes de plantio, culturas diferentes, tipos de solos diferentes, mas a responsabilidade e respeito pela terra é o mesmo", disse o agricultor.

Seu João mostra sua mandala, onde cria peixes e patos.
Lá pudemos ver as tecnologias da cisterna calçadão, bioágua, canteiros produtivos e a Casa de Sementes. Foi nesse espaço que conversamos sobre a preservação das sementes crioulas que nos são passadas há gerações e de sua importância para o ecossistema.


Casa de Sementes da comunidade Areia Branca
Foi uma experiência mais que sensorial, de troca de saberes e sabores: mas também de unir os afetos, olhares e perspectivas para um mundo compartilhável. O fato é que visitar outras realidades nos traz sentimentos diversos, seja de comparação com o que estamos realizando, seja com o que ainda está por vir. 



Vale lembrar que contamos com o apoio da Espaf, representada por Elviro que, além de gentilmente nos acompanhar nas duas visitas, nos certifica que somente através da coletividade, da união e parceria, podemos fortalecer nossas lutas. 


Sigamos...


O que foi dito...

"Agroecologia é um movimento harmônico de saúde, bem estar, afeto, alegria, respeito ao meio ambiente e às pessoas... É uma junção de saberes que se direcionam a tudo o que é bom". Chico Antonio – Agricultor, voluntário da EFA Ibiapaba, está escrevendo seu TCC sobre suas experiências com SAF – Sistema Agroflorestal.

"Nem todas as pessoas hoje tem a oportunidade de consumir alimentos saudáveis, com base agroecológica. Por isso é tão importante encontros como esse, que nos faz pensar sobre como aplicar nossos conhecimentos para que outras pessoas tenham essa oportunidade" Josimar Galdino – Técnico da Obas

"Aprender mais sobre o que o campo tem a nos oferecer." Luan - Aroeiras/Aracati
"Buscar e compartilhar conhecimentos é o que nos move e nos encanta na agroecologia". Jorge Pinto - coordenação da Obas

"Eu só sei viver da agricultura. Eu planto mandioca, milho, feijão... A gente sempre espera ter uma vida melhor, com saúde. Mas aí a gente não pode usar veneno, né?" José Félix - Aroeiras

 "Olhar para mandala é perceber todo o ciclo de produção. A semente no centro, depois as folhas, flores, frutos... E depois a semente novamente dentro do fruto. É a representação da vida." Samia - Técnica da Obas

"Me sinto privilegiada pela conquista da cisterna, mas não por ela só, mas pelos conhecimentos que a gente adquire. É possível viver sem agrotóxico, sim! Por isso é importante esses intercâmbios pra gente entender outras realidades e pra nos alertar, pra gente saber o que produzir e consumir o que a gente produz". Nilca, agricultora Aroeiras/Aracati

"A Agroecologia é libertadora. Nos fala sobre resgate das sementes crioulas, dos bancos de sementes, das relações humanas, de responsabilidade e confiança. É preciso reconhecermos nosso compromisso com a terra, com a gente e com as pessoas" Renata, estudante de Agrononomia na Unilab e estagiária na Obas

"Agroecologia é vida. O ciclo da mandala nos comprova a continuidade da vida". Ezequias Frota - técnico da Obas

"Agroecologia é questão de vida. A ultima extremidade somos nós, que dependemos dela" Natália Silva - técnica da Obas
"O caju é a nossa riqueza lá em Aracati. A gente passa o ano esperando. Sou feliz no meu interior, mesmo não tendo tanta diversidade de plantas. Mas o que a gente tem é bem cuidado". Edilene - agricultora, Aracati

"Se a gente não plantar o que consumimos, muito vai mudar nos nossos hábitos. Muito vai se perder" Silvanio Jr - Jovem agricultor, Aroeiras

"Eu fico observando as histórias e acho que tem tudo a ver usar a informática a favor da agroecologia. Eu penso em estudar agronomia um dia" Gabriel, jovem da comunidade Aroeiras

"Existem diversas maneiras de ajudar o planeta, de ter uma boa convivência, de não poluir, de não pensar só em si. Temos que perceber esse dilema para além do nosso Ceará. É uma questão de mundo". Manuela - Aroeiras

"Agroecologia é modo de vida, perspectiva do comportamento, da felicidade, da saúde e do respeito" Chico Antonio

"As sementes germinam, vem as flores, os frutos... Quem mora no campo tem absorvido muito produto industrializado, desvalorizando o que nossos pais e avós produziam. As novas gerações tem pouco interesse e conhecimento do que a agricultura saudável tem a nos trazer" Rosana - Aroeiras

"Diversidade sem veneno. É possível levar uma vida organizada, saudável e feliz com a agroecologia" Adilton Morais - técnico da Obas



 Ricardo Wagner - comunicador popular pela Obas






quarta-feira, 4 de julho de 2018

Lançamento do Candeeiro celebra a agroecologia e a vida

Dona Angélica durante o lançamento do Candeeiro e banner

Ontem foi dia de muitas comemorações para a família da dona Angélica. Logo pela manhã, ela recebeu em sua casa, na comunidade Pau Pereira, em Chorozinho, agricultoras e agricultores que receberão cisternas calçadão do P1+2 – Programa Uma Terra e Duas Águas.


Famílias do município de Aracati que receberão as cisternas calçadão e enxurrada do P1+2
Sempre com um sorriso acolhedor, dona Angélica, seu Francisco, suas filhas e filhos nos falaram da satisfação em nos receber para compartilhar a alegria pelas conquistas mais recentes e para isso foi preciso voltar um pouquinho no tempo.


Projeto do Reuso das Águas, recém instalado



Há três meses, a equipe de comunicação da Obas participou da formação do Projeto Reuso das Águas Cinzas, com cerca de 19 participantes, e a noite, ao redor da fogueira montada em frente ao alpendre da casa, teve a oportunidade de ouvir os relatos de dona Angélica e seu Francisco. 


Seu Francisco mostra o canteiro que produziu 40kg de alimentos para o PAA

A trajetória do casal perpassa por situações de dificuldade, mas que a união e diálogo prevaleceram como estratégias de resistência. Para estimular a participação da comunidade nos projetos, dona Angélica utiliza suas práticas agroecológicas como estratégia de mobilização. 







Ozelina, filha de dona Angélica, mostra os canteiros com mudas.

A família faz questão de apresentar aos visitantes cada canto da propriedade e quais tecnologias já conseguiram implementar e as mudanças positivas que se instalou em suas vidas.






E ontem foi a data escolhida pela equipe da Obas para fazer o lançamento da edição número 2332 do Candeeiro, boletim informativo da ASA que conta histórias exitosas do semiárido como a de dona Angélica, que não poderia ficar de fora.


Distribuição dos Candeeiros

Após a acolhida às famílias, ter contado sua história, ter ensinado diversas receitas caseiras baseadas na sua farmácia viva, dona Angélica foi surpreendida com a notícia de que o Candeeiro com a sua história estava pronto e seria entregue naquele momento. Alegria da família irradiou o ambiente. Mas as emoções não foram apenas pra dona Angélica: fomo surpreendidos com a notícia de que era o aniversário do seu Francisco e que com apenas três meses de concluída a tecnologia do reuso da água, a família já tinha colhido 40 kg de cheiro verde e fornecido para o PAA – Programa de Aquisição de Alimentos!
Hora de cantar os parabéns para o seu Francisco
Seguindo a linha de receitas, podemos concluir que salpicar em nossas vidas umas pitadas de perseverança, luta, fé e bom humor, teremos como alimento fortificante e saudável o bem viver.



P1+2 – Programa Uma Terra e Duas Águas - financiado pela Asa e executado pela Obas, o programa beneficia famílias agricultoras com tecnologias sociais de captação da água da chuva para produção de alimentos e criação de pequenos animais, e acontece em todo o semiárido brasileiro. Nessa etapa, serão 186 famílias beneficiadas com cisternas calçadão e de enxurrada.

Projeto Reuso das Águas Cinza – É um projeto piloto, financiado pelo Governo do Estado do Ceará, através da SDA – Secretaria de Desenvolvimento Agrário. A tecnologia social conscientiza sobre a importância do uso consciente da água e sua reutilização, através do armazenamento e manejo da água descartada do banho, lavatórios e pias, que passam por um processo de descontaminação para serem utilizadas na irrigação e produção de alimentos. Quarenta famílias serão beneficiadas com essa tecnologia social.


                                                                      Por Ricardo Wagner – Comunicador popular pela Obas