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sexta-feira, 22 de maio de 2015

Intercâmbio agroecológico promove troca de conhecimento entre agricultores de Aratuba, Limoeiro e Potiretama

Gracinha dá as boas vindas aos/as participantes
“Ter duas cisternas em casa, uma pra beber e outra pra plantar, é uma bênção”, Carlos Alberto Silva – Jucazeiro - Aratuba.

Ainda cobertos por uma névoa que se estendia por toda a serra de Aratuba, agricultoras e agricultores partiram em viagem para a comunidade de Caatingueirinha, em Potiretama, no Vale do Jaguaribe, nos dias 20 e 21 de maio. Uma oportunidade para conhecer experiências agroecológicas de outras famílias que são beneficiadas pelo programa de cisternas de placas. O intercâmbio foi acompanhado pela equipe do Banco do Nordeste, composta por Salomão Lelis (gerente de Produtos e Serviços - Direção Geral), Jeania Gomes (gerente executiva de Desenvolvimento Territorial – Superintendência/CE), Tuyna Fontenele (assessora de comunicação), Carlos Henrique Pitombeira e Francisco Henrique Dias (agentes de desenvolvimento), que financiou a construção de 1.113 cisternas de 1ª água e 138 de 2ª água no município de Aratuba, onde a Obas é a instituição responsável pela construção.
Após serem recebidos com um delicioso almoço na casa da Gracinha e seu Luís, fomos para a capela local, onde moradoras e moradores fizeram uma mística de boas vindas. Depoimentos comoventes sobre as mudanças nas vidas das pessoas preencheram o espaço de muita alegria e satisfação. “Como filha de produtor rural e conhecedora da realidade do semiárido, não dá pra não me emocionar ouvindo as histórias dessas famílias lutadoras, que comprovam que é possível mudar essas realidades quando se tem condições de plantar, quando se tem tecnologias que beneficiam a comunidade”, diz Jeania Gomes, com a voz embargada.

Visitando os canteiros
Gracinha fala do seu quintal produtivo

Todo mundo estava curioso pra saber como as famílias de Caatingueirinha mantinham seus plantios, já que a região tem sofrido bastante com a escassez de chuvas. “Aqui não está fácil. As chuvas não foram suficientes. Mas a gente sempre experimenta novas formas de economizar água e reaproveitar. E assim, com a cisterna calçadão, a gente consegue esticar por mais tempo e diminuir o sofrimento das plantas e dos animais”, diz Gracinha.

Autonomia na hora de plantar e o que plantar

Visitando a Casa de Sementes de Caatingueirinha -Potiretama/CE
A casa de sementes também despertou a curiosidade dos visitantes. “A gente chama de casa porque é um nome mais acolhedor. Com muito sacrifício e com o apoio do Banco do Nordeste, a gente ergueu este espaço em mutirão, o que faz com que todo mundo dê ainda mais valor, porque ela é nossa e porque mantém muita riqueza aqui, através das sementes que a gente preserva”, conta Gracinha. Ela ainda falou sobre a importância de se guardar as sementes crioulas para que as espécies não fiquem nas mãos do agronegócio. Os jovens foram citados como importantes agentes transformadores na perspectiva da convivência com o semiárido, já que a participação da juventude na comunidade se dá nos aspectos culturais e políticos, ocupando espaços de discussão de melhorias e aplicações de práticas agroecológicas, por exemplo.

Luta e resistência
Seu Beto (comunidade Jucazeiro/Aratuba) troca ideias com dona Fátima (Bixopá/Limoeiro)
No dia seguinte, a visita foi às experiências no distrito de Bixopá, em Limoeiro do Norte. Dona Santa – agricultora e facilitadora dos cursos de GRH da Obas – mais uma vez nos emocionou com sua sensibilidade e amor à terra. “Relembrar como era difícil a gente beber água limpa por aqui dá um aperto no coração da gente. Mas hoje a realidade é bem diferente. Com as duas cisternas, as dificuldades vão sendo vencidas. Coragem a gente tem pra trabalhar. O desafio agora é que temos que valorizar a agricultura saudável, sem usar veneno”, reforça dona Santa, que realiza práticas agroecológicas em seu quintal.
Dona Santa resgata memórias das lutas comunitárias
Na propriedade de dona Fátima, a cisterna calçadão aponta sinais positivos. “E é porque eu tenho um monte de coisas pra fazer durante o dia. Eu cuido da casa, das crianças, trabalho fora e ainda tenho um tempinho pra cuidar da minha horta.” É possível sentir o cheiro da cebolinha na sua estufa, que também produz pimentão, tomate cereja, couve, beterraba e algumas espécies frutíferas, como o mamão e o limão. A produção de mel também faz parte das atividades da família. Com uma pequena usina, dona Fátima diz que a produtividade é boa, mas que a irregularidade das chuvas e o uso de agrotóxicos em propriedades vizinhas são ameaças à produção, já que afastam as abelhas.

Seu Edmilson (camisa rosa) recebe dicas do seu Paulo, de Aratuba
Na casa do agricultor Edmilson, também em Bixopá, a cisterna calçadão tem garantido fartura e qualidade de vida. “Vocês podem ver que aqui as plantas se desenvolvem bem. Eu planto cenoura, alface, beterraba, pimentão, tomate, cebolinha... Não uso nem uma gota de veneno. Se aparecer qualquer praga aqui, eu prefiro arrancar tudo do que aplicar veneno”, diz o agricultor.


A visita de campo foi ainda mais interessante porque os agricultores de Aratuba demonstraram como realizam seus plantios, dando dicas práticas de contenção da água nos canteiros, receitas caseiras de defensivos naturais e também de como preparar o solo.
“Essa aula que a gente tem com outros agricultores serve demais porque a gente aprende que não é preciso usar veneno nem botar fogo. Quanto mais a gente conhece o jeito de plantar, mais a gente melhora a produção. Acho que se todo mundo tiver oportunidade de conhecer o que outras pessoas estão fazendo por aí, ninguém vai passar dificuldade”, disse sorridente o agricultor Beto, da comunidade Jucazeiro, em Aratuba.
Os intercâmbios comprovam que o conhecimento científico unido ao saber popular ganham força se somados e multiplicados. É a agroecologia transformando mentes e o mundo.

Saiba mais

O Programa de Cisternas do Banco do Nordeste está presente nos municípios de Aratuba, Palmácia, Pacajus, Granjeiro e Altaneira, levando duas tecnologias de captação e armazenamento de água da chuva: a cisterna de 1ª e 2ª água.


Foram construídas 2.844 cisternas de 1ª Água, com capacidade de 16 mil litros, suficientes para uma família de quatro pessoas cozinhar e beber durante a estiagem.


Foram construídas 300 cisternas calçadão de 2ª Água, com capacidade de  52 mil litros, para produção de hortaliças, legumes, árvores frutíferas e nativas, além de dar de beber a animais de pequeno porte, como galinhas e cabras.



Ricardo Wagner – comunicador popular Obas/FCVSA



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