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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Plantar sementes, partilhar saberes...


Pensar no futuro. Plantar. Cultivar. Conservar. Reflorestar. Essas são as palavras de ordem de Gilvan Sousa, de 30 anos, morador da comunidade de Tapuio, há 18 km do centro de Tabuleiro do Norte (CE).

Na casa, onde mora com sua mãe, dona Nilda de Sousa, Gilvan cultiva diversas plantas. O viveiro tem mudas frutíferas, ornamentais e, ainda, um pequeno espaço reservado exclusivamente para plantas da caatinga. “Mas tudo verdinho como está aqui só foi possível depois que chegou a cisterna de segunda água”, afirma.

O tempo de espera entre um reservatório e outro foi pra lá de 15 anos. “Fomos umas das primeiras famílias a receber a cisterna de primeira água, e é dessa que a gente bebe. Mas a segunda cisterna eu que ajudei a construir. E foi muito trabalho, de sol a sol. Mas a felicidade de vê-la pronta, servindo para os animais e para as plantas, é muito grande e compensa todo o esforço e espera”, garante Gilvan.

E como a vida melhorou, alegra-se o agricultor. “Antes, comprávamos uma carrada d’água por mês. Mal dava para nós, imagine para os bichos e para a plantação! Mesmo assim eu não deixava de plantar. Hoje, com a cisterna de enxurrada não tem nem como comparar. Se dividir 52 mil litros por ano, dá mais de 4 mil litros por mês, e se economizar num mês, ainda sobra para o outro!”, calcula.

O agricultor também lembra que na comunidade todos se ajudam. “Os animais bebem da água, que também serve para as plantas. Aqui não tem mais carro pipa não. Se faltar água em algum canto, temos que ceder porque não pode negar água para ninguém, todos são nossos irmãos. Quem necessitar pode vim buscar água em nossa casa. Sei que também farão o mesmo com a gente, se precisarmos”.

Depois que a cisterna de enxurrada chegou, em setembro de 2013, muita coisa mudou mesmo. “Já tínhamos algumas mudas plantadas, mas era pouco. Em outubro teve uma grande chuva e começamos a produzir feijão, milho, melancia, melão. Em dezembro já tirávamos jerimum para o nosso consumo. Logo depois, começamos a vender as verduras”, explica.

Junto com a chegada da cisterna de segunda água, Gilvan recebeu um quintal. “Vieram dois canteiros e já construí outros dois. Produzo cebola, pimentão, coentro, etc. O bom é que vendemos dentro da própria comunidade, ou para quem vem nos visitar. A venda é certa porque todos sabem que é tudo orgânico, não tem nada de veneno”.

A experiência, ele partilha com todos. “Recebemos muitas visitas e levamos as pessoas quintal adentro, para que elas vejam que está funcionando”. Nas visitas nos intercâmbios, aprendeu a fazer defensivos e receitas sem venenos. “As coisas que aprendo sempre trago pra cá. E para onde vou, também levo minhas sementes porque eu não posso somente ir às casas das pessoas buscar algo, eu também tenho que levar. Se ela já tiver aquela muda, aí eu trago as sementes de volta, mas se ela não tiver, eu deixo lá. Partilhar, é isso que significa pra mim a importância do intercâmbio”, comenta.

Em uma de suas visitas, explica Gilvan, ele trouxe umas sementes de feijão andu, nativo da região, mas que tinha desaparecido há alguns anos. “Trouxe e dividi com toda a comunidade, plantamos e já temos várias mudas de feijão”. Com sua experiência, Gilvan começa a montar agora, a Casa de Sementes da comunidade.

E o costume ele já passou para a família. A mãe, dona Nilda de Sousa, lembra que sempre que vai ao supermercado e vê uma fruta diferente, acaba comprando para tirar a semente e plantar. Eles fizeram isso com limão, laranja, azeitona, ameixa e outras. “Quem tem sementes,
sempre manda um pouco para mim, porque sabe que eu gosto de plantar ou presentear alguém com mudas. Sou igual a um passarinho, onde eu vejo uma semente,  tenho que trazer”, conta sorrindo.

“Tenho um terreno de 2 hectares, e um dos meus projetos é reflorestá-lo. Já temos mudas de Juazeiro, Cumaru, Marizeira, Sabiá, Carnaúba, Ipé roxo ou Pau d’arco. E plantado já tem sapoti, caqui, jambo, jaca mole, azeitona, graviola, pitomba, manga rosa e maga itamaracá, goiaba, limão. Até um nome já tem. Lá se chama Arco Florestal!”, finaliza Gilvan alegre como quem já prevê o futuro.



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