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sexta-feira, 20 de abril de 2018

FCSVJ participa da VIII Semana Zé Maria do Tomé

Por Ricardo Wagner – Comunicador popular pela Obas
Comissões municipais do FCSVJ e estudantes da UECE

“Novas vidas, vidas novas”. Com essa frase, dona Santa – agricultora, facilitadora de formações como o GAPA e GRH – iniciou o debate sobre convivência com o semiárido e suas tecnologias sociais, realizado durante a VIII Semana Zé Maria do Tomé, no STTR de Limoeiro do Norte.
A mesa foi composta por dona Santa, José Augusto (agricultor – Quixeré), Sr. Aldenor (STTR Russas), prof. Paulo (IFCE), Angerliana (Cáritas Limoeiro) e facilitada por Diego Gadelha (Cáritas Limoeiro).  Participaram as comissões municipais do Vale do Jaguaribe, professoras/es, estudantes da UECE Campus Itaperi, organizações sociais e pessoas da comunidade.

“O P1+2 tem enveredado por caminhos de evolução”
Dona Santa lembra que as tecnologias sociais contribuem para a organização das famílias e para a compreensão de que foram conquistas históricas. “Além da água de qualidade pra beber, o P1+2 tem despertado nas famílias o interesse em variar a produção. Antes, as mulheres criavam mais galinhas para produzir ovos caipiras, mas tem aumentado a produção agropecuária, que envolve cabras e outros pequenos animais. E sem falar que as cisternas valorizam as suas propriedades e estimula as famílias a buscar outras tecnologias como o biogás, energia solar e água de reuso”.

Augusto (agricultor de Quixeré) apresenta maquete do Bioágua

José Augusto, agricultor da comunidade Lagoinha, em Quixeré, exibiu orgulhosamente uma maquete do projeto bioágua familiar, que também é conhecido por água de reuso ou águas cinzas. A curiosidade, principalmente dos/as estudantes da UECE foi grande, formando um aglomerado durante a sua explicação. “Esse projeto, além de reaproveitar a água, facilita a vida da gente porque a gente tem como irrigar e nem se vê mais esgoto a céu aberto”, disse o agricultor. Ele lamenta que essa tecnologia ainda é pouco divulgada e recebe pouco investimento, com custo estimado em 3 mil reais. Augusto está muito feliz porque conseguiu produzir 100 quilos de húmus sem agrotóxicos, além de conseguir irrigar sua propriedade reaproveitando a água que antes o destino era o esgoto.

Armazenamento + gerenciamento da água = Bem viver
Seu Aldenor (STTR Russas) tem sempre um jeito de nos fazer refletir sobre a importância das tecnologias sociais. “Se a gente for somar os 52 mil litros de água armazenada em cada cisterna dessas, equivale a muitos açudes. E a diferença é que essa água está ali, na porta de casa, servindo as famílias”. Ele contou também que com as cisternas percebeu que o tratamento sobre as questões do semiárido vem sendo valorizado, mudando a mentalidade das pessoas.

“A gente não quer só sobrevivência: a gente quer prosperidade e autonomia”
Assim o professor Paulo (IFCE) pontuou sobre as lutas que envolvem a questão hídrica, especialmente no Vale do Jaguaribe. Ele instigou o pensar nas lutas pelo acesso à água, direito à terra e as noções de aprendizado a partir das dificuldades que os povos da região passam. “O que aprendemos com isso? As limitações naturais (estiagem) não podem implicar no não desenvolvimento”. Paulo discorreu sobre como aproveitar e entender a região, refletindo sobre os modelos de desenvolvimento que, segundo ele, não são adequados a realidade local. “O período de poucas chuvas é sempre período de grande preocupação. Até que ponto essas grandes obras chegam aos pequenos produtores, que estão dispersos? Estamos no nível de sobrevivência, mas desde quando deixamos de produzir no campo?” Provocou o professor. Ele também lembrou que os canais de integração são vistos como veia principal, deixando os rios em segundo plano, e que as tecnologias sociais surgem como a outra ponta que mostra que somos capazes de administrar os recursos hídricos.

“Nós temos força e sabemos os caminhos”

Angerliana (Cáritas Limoeiro) apresenta gráfico resgatando histórico das tecnologias sociais
Seguindo a linha dos avanços acontecidos no semiárido a partir das tecnologias sociais, Angerliana (Cáritas Limoeiro) trouxe uma questão: “Qual o potencial político das tecnologias sociais?!” Entre afirmação e indagação, ela sugeriu algumas reflexões sobre o nosso papel individual e institucional. “É preciso avaliar nossas metodologias. Quantas famílias entendem que as tecnologias sociais são potenciais para mobilização e garantia de direitos sociais?”

“Um arsenal de resistência fica restrito às comunidades”
Diego Gadelha (Cáritas) pontuou que em um ano o agronegócio utilizou a água do aqüífero Jandaíra Açu o equivalente a um milhão de cisternas, com a produção de melão para a exportação. “E em 7 anos de seca a carcinicultura (produção de camarão) vem aumentado. É da gente se perguntar: pra quem tá faltando água? É preciso que a resistência vire mobilização política”, provocou.

Durante o debate, muitas questões pertinentes surgiram como o retorno das discussões sobre conjuntura política nas bases, debates sobre as tecnologias com metodologias apropriadas às faixas etárias nas escolas, reafirmar e promover o autoconhecimento dos valores e conquistas dos povos tradicionais e também compreender a importância de se debater a comunicação popular como estratégia de fortalecimento das lutas do semiárido.

Jorge Pinto (Obas) debatendo sobre conjuntura política
“A resistência dos trabalhadores e trabalhadoras é a esperança”
Continuando a nossa roda de conversa, foi a vez de Jorge Pinto (Obas) trazer elementos que dialogassem que a atual conjuntura política que o Brasil atravessa. Após um pequeno vídeo, Jorge, elencou algumas perguntas para que as comissões municipais pudessem refletir e posicionar-se, como “o colapso do pacto social”, “transformações reacionárias no regime político” e “neofascismo mostra as garras”.

Dona Socorro (Comissão Municipal de Russas)
O debate foi emocionante e fervoroso, ao lembrarmos os discursos reacionários e imediatistas, favoráveis a subtração de direitos como a reforma trabalhista e previdenciária e com a conivência das grandes mídias. Dona Socorro, por exemplo, nos perguntou "que democracia é essa que estamos vivendo? É justo nos retirar tantos direitos conquistados com tanta luta simplesmente pra satisfazer a quem tem poder?"
A Constituição Federal foi citada como uma fonte desrespeitada de direitos, provocada pela ganância pelo poder, que insufla discursos de ódio contra minorias e dissemina preconceitos contra negras e negros, LGBTT’s, pessoas da periferia, mulheres, nordestinas/os entre outros.
Daí encaminhou-se um novo momento para elaboração coletiva de metodologias e planos de ação que nos reascenda o brilho do entendimento do que é o bem viver no semiárido.

Você sabia?
FCSVJ - Forum de Convivência com o Semiárido do Vale do Jaguaribe. é composto pelas comissões municipais do Vale do Jaguaribe. Integram o fórum os Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, agricultoras/es, organizações não governamentais, profissionais da saúde e da educação, lideranças religiosas, pastorais sociais, associações comunitárias e juventude rural.

GRH - Curso de Gerenciamento de Recursos Hídricos

GAPA - Curso de Gestão de Água para Produção de Alimentos

São doze comitês de bacias hidrográficas no Ceará

80% das decisões devem ser tomadas pela sociedade civil e 20% pelo poder público.

22% da água vai para a indústria

0,25% é o investimento do Governo Federal na agricultura familiar este ano

Houve um corte de 92% nos programas de cisternas pelo Governo Federal






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