Translate

sexta-feira, 21 de março de 2025

BANNER - CISTERNA CONSTRUÍDA. PROMESSA CUMPRIDA


 

BANNER - MIKAELE E A FORÇA DA MULHER QUE TEM ORGULHO DE SI MESMA


 

CANDEEIRO 2634 - MÃOS QUE TRANSFORMAM O SEMIÁRIDO







 

CANDEEIRO 2632 - MOBILIZAÇÃO É A FORÇA DA COMUNIDADE




 

CANDEEIRO 2631 EXISTÊNCIA, RESISTÊNCIA E MUITO AMOR NO SEMIÁRIDO



 







CANDEEIRO 2633 - SONHOS QUE SE REALIZAM COM POLÍTICAS PÚBLICAS


 



CANDEEIRO 2628 - QUANDO O SOL É O PRINCIPAL DESAFIO: A LIDA DE AGRICULTORES COM ALBINISMO

 


CANDEEIRO JAMILLY E A JUVENTUDE QUE ENCHE OS OLHOS DE ALEGRIA NO SEMIÁRIDO










 

Águas e Mudanças climáticas: como isso nos afeta.

Matheus Lima – Eng. Agrônomo, Mestre em Agronomia e Técnico de Campo da Obas 

Ricardo Wagner – Comunicador Popular pela Obas

 

Faz tempo que se fala em mudanças climáticas e isso sempre pareceu algo que demoraria a acontecer. O fato é que essas mudanças já começaram. E vem afetando todo o planeta. Todo mundo vai sentir os impactos de uma forma ou de outra. A maioria da população terá dificuldades de acesso à água bem mais rápido e também de forma mais brutal. Segundo a ONU – Organização das Nações Unidas, as causas são diversas. Por exemplo, para se produzir cimento, ferro, aço, plástico, confecções, produtos eletrônicos entre outros materiais, muitas indústrias usam equipamentos movidos a carvão, petróleo ou gás, liberando fumaças e gases como o dióxido de carbono e o óxido nitroso. Esses gases ficam na atmosfera, retendo o calor do sol e vai aquecendo a Terra. Isso a gente chama de Efeito Estufa.

Mas há outros fatores que potencializam as mudanças climáticas. Vamos conhecer alguns.

Transporte - Os combustíveis fósseis estão nos carros, aviões, caminhões e navios, emitindo quase um quarto de dióxido de carbono. E como a gasolina vem do petróleo, os veículos são a maior parte dessa emissão.

Desmatamento - Nossas florestas estão dando lugar a fazendas e pastos. Quando as árvores são cortadas, elas liberam o carbono que estavam armazenando direto para a atmosfera. São mais de 12 milhões de hectares de florestas destruídos por ano no mundo! O avanço do agronegócio sobre áreas de floresta nativa e outros biomas tem causado o desmatamento, a perda de biodiversidade e a extinção de espécies.

Secas e enchentes: tudo ao mesmo tempo agora! Com o aumento das temperaturas, o acesso à água torna-se menor. A escassez de água em algumas regiões e as enchentes em outras, mostram o desequilíbrio ambiental que nosso ecossistema vem passando. A seca na Amazônia é um grande exemplo disso. Quem imaginaria que aquela imensidão de rio pudesse passar por uma situação dessas?

Desde os anos 1980 que a temperatura vem aumentando a cada ano. De 2011 aos dias de hoje, foram os anos mais quentes já registrados. O calor dificulta os trabalhos ao ar livre de agricultores e agricultoras, pedreiros/as, pescadores/as, entre tantos outros. Queimadas e incêndios têm se espalhado mais rápido e além dos prejuízos com plantações, florestas e casas, as pessoas adoecem por conta da fumaça e muitas perdem a vida. A falta de mata ciliar, causa assoreamento dos rios. Muitos ficam secos por anos seguidos. A escassez de água afeta tanto a agricultura quanto as pessoas. De 2010 a 2019, cerca de 23 milhões de pessoas do mundo todo abandonaram suas casas por causa da falta d’água. Isso gera impactos enormes, evidenciando o grande número de refugiados em países onde as pessoas estão mais vulneráveis e aumentando a pobreza pelo mundo. Os períodos de seca e de desertificação vem aumentando e as áreas de cultivo diminuindo. As queimadas e a desertificação têm expulsado animais de seus territórios, causando desequilíbrio, pela falta de predadores naturais e muitas vezes transmitindo doenças até então desconhecidas. O que se sabe é que as mudanças climáticas ameaçam a sobrevivência de todos os seres vivos do planeta! Na próxima década, mais de um milhão de espécies correm o risco de sumir do mapa.

Enquanto isso, a fome e a subnutrição vêm aumentando em lugares onde as pessoas não conseguem produzir seus alimentos, afetando a cada ano cerca de 13 milhões de pessoas.

E nossas águas? As tempestades têm sido comuns em lugares onde nunca existiam. Os furacões e tufões se fortalecem com o aquecimento dos oceanos, destruindo tudo o que veem pela frente. O derretimento das geleiras e o lixo, óleos e produtos químicos que vão para os mares tem deixado as águas mais ácidas, aumentando o risco de espécies marítimas desaparecerem, afetando a alimentação de milhões de pessoas.

E pra completar, o agronegócio utiliza muita água para irrigação, contribuindo para a crise hídrica em diversas regiões do planeta, especialmente no Semiárido.

O clima afeta diretamente as populações mais pobres, principalmente nas periferias, favelas, comunidades rurais e em lugares onde não tem saneamento básico. Basta observar quando acontecem as enchentes e alagamentos, destruindo casas, lavouras, represas e outras estruturas.

Todas essas questões aliadas à maneira excessiva que consumimos, como nos locomovemos, como nos alimentamos e quanto lixo produzimos, contribuem para os gases emitidos para o efeito estufa. Será que precisamos mesmo de uma roupa nova a cada semana, utilizar tanta sacola plástica, trocar nossos celulares por um modelo novo a cada ano? O nosso modo de viver atua diretamente em todas essas questões, sendo que as pessoas mais ricas são responsáveis por mais emissões de gases do efeito estufa do que os 50% das pessoas mais pobres.

O Agro não é pop - A produção de alimentos é  tema central no debate sobre o futuro do planeta. O agronegócio e sua produção em larga escala de monoculturas de milho e soja, tem sido apontado como um dos principais responsáveis pela crise climática e tem relação direta com o aumento da fome e da subnutrição, que chamamos de insegurança alimentar. Esse tipo de agricultura responde por um quarto das emissões globais de gases como o metano e o dióxido de carbono, através do desmatamento, queimadas, uso de agrotóxicos e fertilizantes nitrogenados. O uso intensivo de agrotóxicos na produção de alimentos causa a contaminação do solo, da água, dos alimentos e do ar, com graves consequências para a saúde humana e para o meio ambiente. Além disso, o agronegócio gera grande desperdício de alimentos seja por perdas na colheita, no transporte ou no consumo.

Mas existe a Agricultura Familiar, que envereda por outros caminhos. É importante afirmar que a Agricultura Familiar é responsável por alimentar 80% da população mundial! Esse modelo de produção de alimentos é uma alternativa sustentável e socialmente justa, pois respeita e valoriza os ciclos da produção, os cultivos locais, a não utilização de agrotóxicos, as diferentes espécies de plantas e animais, contribuindo para a segurança alimentar e nutricional das famílias e comunidades. Práticas agrícolas adaptadas às condições de cada região, e o manejo integrado de pragas, contribuem para a preservação do solo, da água e da biodiversidade.  Os conhecimentos tradicionais e a cultura local também são muito valorizados, transmitidos de geração em geração. Desse modo, a agricultura familiar gera emprego e renda, visibiliza e valoriza o trabalho das mulheres, e promove a permanência de agricultoras e agricultores no campo para o desenvolvimento das comunidades. A essas práticas chamamos de Agroecologia.

Entre os desafios, estão o acesso a crédito, assistência técnica e mercados, além da pressão do agronegócio, que busca monopolizar a produção de alimentos. Para garantir a segurança alimentar e nutricional da população e proteger o meio ambiente, é fundamental fortalecer a agricultura familiar, por meio de políticas públicas que incentivem a produção sustentável, a Agroecologia, a criação de cooperativas e associações de produtores, a assistência técnica e a abertura de mercados para os produtos da agricultura familiar.

A sociedade precisa escolher entre o agronegócio, que concentra a produção de alimentos nas mãos de grandes empresas e causa graves impactos socioambientais, e a Agricultura Familiar, que valoriza a diversidade, a sustentabilidade e a justiça social.

É preciso ouvir a ciência, os saberes populares, os povos originários e rever nossos modos de conviver com a natureza. Programas sociais como as cisternas de placas (de água para beber, produzir alimentos e para escolas), casas de sementes e transição agroecológica são comprovadamente soluções de convivência com o semiárido. Mas elas sozinhas podem ser engolidas ou fragilizadas pela ganância que alimenta o capitalismo e o agronegócio. Os povos do campo, das florestas, das águas e das cidades precisam unir forças para confrontar o modelo destruidor de vidas. De que lado você está?